Programa
Apresentação
por Carla Caramujo, diretora artística do Festival de Ópera de Óbidos
Produzir ópera é mergulhar num universo de enorme criatividade e multidisciplinaridade. Isto significa ousadia nas escolhas dos títulos, adequabilidade às condições físicas mas, sobretudo, imenso respeito pelas diferentes equipas intervenientes. A arte une-nos nas diferenças através do seu grande poder inclusivo, reflexivo e emocional. A ópera, de todas as artes, é rainha, pois conflui em si todas as outras expressões artísticas, tornando-se irresistivelmente transformadora.
O Festival de Ópera de Óbidos está de volta e, nesta terceira edição, veste-se de Almada Negreiros e Belle Époque estendendo uma ponte artística entre as primeiras décadas do Séc. XX e os nossos dias, não só na estética, mas, sobretudo na reinvindicação de valores fundamentais da liberdade, igualdade e tolerância que, hoje, mais do que nunca, precisamos relembrar!
A edição de 2025 apresenta-se irreverente nas linguagens musicais criadas por Bizet, Ravel, Vasco Mendonça, Manuel de Falla, Christoph Renhart, Wolf-Ferrari e, manifestamente tolerante, na forte mensagem humana dos textos por estes compositores musicados, sem deixar de homenagear Camões e a língua portuguesa.
Inspirados por Vasco da Gama, iniciamos uma viagem por mares de efemérides nunca antes navegadas. Começamos por homenagear o grande navegador português nos seus 500 anos e o incontornável Georges Bizet, nos 150 anos da sua morte, através da sua Ode Sinfónica Vasco da Gama.
Seguimos viagem e o nosso primeiro fim-de-semana operático convida o público a desfrutar de um passeio pelo belíssimo convento de S. Miguel e mergulhar na música irreverente e sofisticada de Mendonça e Ravel, em que a poética de Gonçalo M. Tavares e Sidonie Colette nos conduzem a uma grande reflexão dentro do universo da fantasia infantil. Tudo isto numa simbiose surpreendente entre O Lobo, a Menina e o Caçador e L’enfant et les sortilèges, sem esquecer o centenário da estreia desta obra prima de Maurice Ravel, precisamente no ano em que celebramos o seu 150.º aniversário.
Retomamos a nossa viagem e aportamos no âmago do drama atual dos refugiados com a estreia absoluta de Café Europa “Between memories” de Christoph Renhart e libreto de Miguel Honrado, numa ação educativa onde a palavra de ordem é tolerância.
Por fim, a nossa caravela aporta no mundo da subtileza feminina, revelando O Segredo de Susana do compositor Wolf-Ferrari. Mais uma vez, a linguagem musical surpreendente do início do séc. XX, sublinhando a corajosa epopeia da emancipação feminina nessa época. E porque falar de emancipação feminina é falar de direitos conquistados através da ousadia, terminamos o nosso festival numa explosão de exotismo e liberdade personificadas na figura da Cigana-Andaluz em El Amor Brujo do compositor Manuel de Falla, celebrando também o centenário de estreia desta magnífica obra.
O Festival de Ópera de Óbidos reafirma-se como um importante centro de produção operática na região Oeste do país, dando assim um contributo para o desenvolvimento da lírica nacional e desempenhando um papel fundamental no fortalecimento das nossas indústrias criativas, dentro e fora de portas.
Sejam “todos, todos, todos” muito bem-vindos ao Festival de Ópera de Óbidos!
